Descubra as histórias do Alexandre, da Marta e da Emily
Em entrevista, Alexandre Gaspar, Marta Vitorino e Emily Calcagno contam-nos sobre as suas vidas com deficiência visual, e de que modo as suas necessidades foram atendidas ao longo das suas experiências académicas. Desde o ensino público ao privado, estes entrevistados refletem sobre os apoios, obstáculos e mudanças de paradigma que se tem sentido ao longo dos últimos 30 anos perante o conceito de “escola inclusiva”. Acrescentam-se testemunhos de pais e de professores, cujas perspetivas compõem esta trajetória geracional nas escolas, em Portugal e no mundo.
Em entrevista com Alexandre “Xano” Gaspar, professor e pianista de 42 anos detalha como alguém se habitua a uma vida com deficiência visual. O diretor do coro d’Os Traquinas desmistifica o passo largo em que caminha na estrada que traça desde nascença.
Nos anos 90, em Lisboa, esperava-se que escolas especiais, como o colégio de renome Centro Helen Keller onde estudou Alexandre, fossem quem melhor responderiam às necessidades de alunos com deficiência visual. No entanto, este conta como quis sair dessa bolha de proteção e quis enfrentar o ensino público, tomando uma atitude de superação perante os obstáculos que lhe surgiram.
Garantir o material didático e de apoio adequado é uma preocupação para as famílias de pessoas com deficiência visual. Alexandre está ciente do privilégio que teve na capacidade da sua família suportar as suas necessidades, desde a máquina de Braille ao piano. Reflete já em adulto como novos avanços tecnológicos permitem maior autonomia e acessibilidade.
De modo a desmistificar o que é viver com deficiência visual, Marta Vitorino responde com humildade e paciência às ideias pré-concebidas e perguntas absurdas de uma sociedade em aprendizagem. A locutora apela à abertura para dar a conhecer as realidades desconhecidas com que todos nos deparamos.
A entrada da Marta no liceu Sá da Bandeira, em Santarém, coincidiu com a integração do mesmo agrupamento escolar na rede de referência para a inclusão de alunos cegos e com baixa visão da Direção-Geral da Educação. Face à sua experiência neste início de adaptação, a Marta conta qual o normal funcionamento das suas aulas, e qual equilíbrio devem os professores encontrar em torno da inclusão de cada aluno indivíduo, com deficiência ou não.
Com um crescimento marcado por uma corrente de evolução tecnológica enorme, Marta comenta os métodos e ferramentas de acessibilidade que lhe têm permitido maior autonomia. No entanto, como teme, a recente evolução em torno da inclusão necessita de correr ainda para a normalização, e não para o fascínio da superação, também ela discriminatória.
Emily tem 16 anos, está no 11º ano, e tem Distrofia de Cones, o que a faz ver o mundo de forma turva e com menos cor à luz do dia. Em entrevista junto dos seus pais, a família Calcagno esclarece como foi descobrir esta diferença, que fora algumas questões práticas do dia-a-dia, não impedem a Emily de viver uma vida colorida.
Estudante da Fundação Escola Americana de Lisboa (também conhecida por CAISL) há onze anos, a Emily explica como a sua escola privada se preocupa, detalhando quais os apoios, ferramentas e professores com que pode contar no seu percurso académico. Não sendo a única aluna na mesma turma com uma condição semelhante permitiu-lhe crescer com uma amiga compreensiva, com quem pode levantar a mão às carências sentidas e não ser tão esquecida na sala de aula. Para a Emily, o que importa é aprender, e neste meio é encorajada a dizer o que precisa sem medos.
Para Lisa e Guido, pais da Emily, desenvolver o departamento de apoio a necessidades especiais na escola da filha foi “uma batalha”. Juntamente com outros pais, pressionaram a administração a fazer as mudanças necessárias para que mais nenhuma família se visse resignada a retirar o seu filho da escola por falta de condições. Embora hoje sintam que esse trabalho esteja bem feito e a filha tenha os apoios adequados de que necessita, falam no que consideram ser essencial para abrir mais o caminho da educação inclusiva.
Sónia Martins, professora de apoio de Emily e outros alunos na Fundação Escola Americana desde 2018, é licenciada em Educação Especial e Reabilitação. Tem anos de experiência a trabalhar com famílias e jovens com todo o tipo de perturbações do desenvolvimento através do Centro de Desenvolvimento Infantil. A sua voz põe em perspetiva a evolução nacional em torno da inclusão, e detalha o espaço construído em conjunto.
Prestes a acabar o secundário e a seguir rumo para a universidade, o futuro e independência de Emily é tanto uma preocupação como um entusiasmo para toda a família. Perante sistemas europeus que a reconhecem e oferecem apoios, pais que fazem os possíveis para garantir a sua felicidade, e buscas por novas tecnologias e descobertas científicas, a família Calcagno fala das suas esperanças por um futuro em construção, sob o mote de viver dia para dia.