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As Perguntas da Marta Vitorino

Uma mulher branca com cabelo castanho, óculos e camisa branca, sentada num estúdio de gravação.

Eu sou a Marta, tenho 26 anos, tirei o curso de Ciências da Comunicação. Neste momento estou à procura de emprego e trabalho com freelancer, com locutora digamos assim. Dou voz a anúncios e afins. Acho que gosto de estar com os meus amigos como toda a gente; gosto de música, estou a aprender guitarra; tenho um podcast e gosto de cantar.  

Eu vejo sombras supostamente. Eu nunca vi outra coisa, portanto eu suponho que seja isso, é o que as pessoas me dizem e depende da luminosidade e do estado de espírito consigo ver cores. Cada sítio tem a sua luminosidade própria e suponho que isso aconteça convosco, comigo acontece da mesma forma só que com muito menos intensidade.  

A minha interpretação de cor é ainda alguma, mas é muito vaga, ou seja, eu tenho noção do que é o azul, eu tenho noção do que é o cor-de-rosa. Agora, eu se calhar tenho noção do que é um azul céu e do que é um azul meia-noite…  

Eu acho que quando eu digo que ser cega é tão natural como ter o cabelo castanho para mim, é tão natural como isso e eu acho que falta muito esta naturalidade de, opá, então não consigo ir desta maneira, okay vou perguntar, qual é o mal de perguntar, normal, vocês também perguntam para outras coisas e está tudo certo.  

A questão da cegueira sinto que nem se colocava. E quando as pessoas tinham dúvidas eu sempre me pus à vontade para que pudessem esclarecer dúvidas porque a verdade é: eu também tenho dúvidas de uma realidade que não conheço e eu posso ou afastar-me e fugir dessa realidade porque não conheço – e também ou não quero conhecer e isso vai à vontade de cada um – ou simplesmente tenho medo de falhar ou tenho medo de ofender ou acho que não vou saber ou afins.  

Para as pessoas com deficiência, eu digo sempre a mesma coisa que é: tenham sempre humildade e a capacidade de explicar.  

Se ouvirem perguntas absurdas, respondam a perguntas absurdas, óbvio que depende da intenção da pessoa. Mas também não esperem logo que a pessoa está a fazer uma pergunta completamente ridícula porque está a gozar ou porque vos está a mandar abaixo. Não! As pessoas não sabem tudo, assim como vocês não sabem tudo. Por isso, se nós somos uma minoria, que a somos, então temos de ter a capacidade de explicar as nossas adaptações à maioria.  

Quantas vezes por dia, não estou a exagerar, quantas vezes por dia eu vou na rua e me perguntam: precisa de ajuda ou, mas ali tem escadas, vai conseguir subir escadas? Os cegos não têm problema nenhum em subir nem descer escadas, gente! Não têm nenhum problema, graças a deus, não têm nenhum problema de locomoção nos membros inferiores que nos impeça de subir ou descer escadas. Estão a perceber? E, no entanto, isto é uma ideia da sociedade inteira, por isso, pronto, é isso, é venham questionar e nós estamos aqui para desmitificar.  

Tem de haver abertura dos dois lados, nós, pessoas com deficiência temos de ter abertura para explicar e os outros tem de ter abertura para ouvir e para se deixarem entender e para não ficarem com pré-conceitos porque às vezes há todo um conjunto de pré-conceitos e de ideias pré-concebidas que não fazem sentido nenhum.

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