Um homem branco, com cabelo castanho-claro, óculos e camisa azul bebé, sentado numa cadeira de auditório.
Felizmente os meus pais puderam suportar os materiais didáticos. No caso da minha deficiência não é fácil, não são baratos, propriamente, e, portanto, desde a máquina de Braille, desde depois da parte de computadores, etc. Felizmente como eu digo, felizmente, porque há quem não consiga suportar essas despesas. E sem dúvida que acabam por ser um obstáculo, sim.
Um pai que paga para o filho ter aulas quer é que o aluno seja bem servido.
Inclusive quando estava na escola, mesmo materiais didáticos, às vezes, as pessoas perguntavam-me se o estado comparticipava e eu até brincava: “Não, não, eu inclusive pago IVA.”
Fiz todo secundário com o braille, portanto, com a máquina de braille, que é uma máquina unicamente mecânica. Hoje em dia, sem dúvida, que é tudo muito mais facilitado com os computadores. Hoje em dia, tenho noção que se fosse para o ensino secundário nunca iria usar a máquina de braille, porque hoje em dia fazes tudo com computadores, desde o Word, desde Excel, é muito mais fácil e o apoio é outro.
Demos um grande avanço a nível informático e hoje em dia é total a autonomia. Pronto e nas tarefas do dia-a-dia também, igualmente, enfim uma coisa ou outra que possa pedir ajuda de algum colega ou familiar, mas a nível geral posso dizer que é com autonomia.
A música traz a mais-valia, especialmente, para quem é invisual, porque vive muito da parte auditiva, da parte tática, como tocar um instrumento.
Olha eu comecei a tocar desde os meus 5 anos, tinha um piano de brincar, como todos os miúdos normalmente têm. Um piano de brincar e quando, sei lá, ia no carro dos meus pais, ou ia à missa, assim que ouvia música chegava a casa e ia logo tentar tocar aquilo que tinha ouvido. E foi nessa altura que os meus pais perceberam que tinha algum jeito, enfim, alguma queda para a música como se costuma dizer.
Eu aprendi a ler o braille, mas há um problema, não conseguimos estar a ler e a tocar ao mesmo tempo. Não é? Ou estamos com os dedos em cima do braille ou estamos com as mãos em cima do piano. E portanto, a dada altura, o processo é único, é decorarmos tudo e tocar.
O que de certa forma também tem outros benefícios, porque acabamos por envolvermo-nos muito mais com aquilo que estamos a tocar, não é? Porque de certa forma quem lê e toca ao mesmo tempo, acaba por se focar tanto na leitura que se calhar depois não dá tanto de si. Portanto, tem outras vantagens.